Caparaó: um território que transforma quem vive e quem visita

No Caparaó, o turismo de experiência está transformando sonhos em negócios e dando mais qualidade de vida aos moradores

Texto: Julio Huber / Foto de topo: André Berlinck

Publicado em 08/06/2025 às 16:50

Uma viagem repleta de paisagens exuberantes, surpresas inesperadas, gastronomia de dar água na boca, aconchegantes pousadas e pessoas que encantam, inspiram e que transformam o lugar onde moram em uma região próspera, acolhedora e boa para se viver. Isso é um pouco do que você, leitor, irá desvendar ao longo dessa jornada, até o final desta reportagem.

No alto das montanhas que unem o Espírito Santo e Minas Gerais, um Brasil genuíno e inspirador se revela. A região do Caparaó tem se transformado em um poderoso exemplo de como o turismo de experiência pode ser o motor de desenvolvimento, respeitando raízes, valorizando a cultura local e fomentando a economia regional de forma sustentável.

Percorremos mais de 1,2 mil quilômetros em quatro dias de viagem. Foram mais de 27 horas de estrada para descobrir o que tem atraído tantos turistas e empreendedores ao Caparaó.

Por trás de tantas paisagens estonteantes, cafés premiados e cachoeiras de tirar o fôlego, há pessoas que decidiram transformar sonhos em negócios, famílias que abriram as portas de casa para turistas, agricultores que se tornaram baristas, fotógrafos que viraram empreendedores e jovens que retornaram às origens para empreender com propósito. O Caparaó hoje é um mosaico de histórias que inspiram.

O crescimento turístico tem sido notável na região não apenas por conta do Pico da Bandeira – 3º cume mais alto do país, com 2.890 metros de altitude –, mas também devido à hospitalidade de seu povo, da qualidade dos cafés especiais e da crescente profissionalização dos serviços. O Caparaó colhe os frutos de uma revolução silenciosa que transforma cada pousada, cada restaurante e cada trilha em oportunidades reais de geração de renda e valorização cultural.

Esse não é apenas um destino – é um território que pulsa com emoção, pertencimento e futuro. Quem visita, volta diferente. Quem fica, ajuda a transformar. E quem conhece, jamais esquece e quer voltar.

PÉ NA ESTRADA – E para conhecer tudo isso, partimos de Vitória, capital do Espírito Santo, bem cedinho, e seguimos pela BR-262 com destino ao Poço das Antas, em São João do Príncipe, distrito do município capixaba de Iúna. É onde vive o “Guardião do Caparaó”, como é conhecido Antônio Tarden, 65 anos.

Ele é a representação do jeito de ser dos habitantes dessa região que se sentem pertencentes e com raízes fincadas nessa terra. Em uma casinha simples, sem energia elétrica e feita de madeira e barro, Antônio Tarden vive na maior parte do tempo em companhia do seu cachorro Thor.

"Isso aqui representa tudo para mim"

Antônio Tarden

“Quando meu sogro me apresentou esse lugar, em 1988, eu me encantei, construí uma barraca de lona e ei a cultivar parte da terra e reflorestar o restante. Na época, eu era motorista de caminhão, mas vinha para cá plantar café, milho, feijão e criar porcos. Hoje, isso aqui representa tudo para mim”, contou ele.

Foto: Julio Huber

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Antônio Tarden, conhecido como o Guardião do Caparaó, vive em uma casinha simples desde 1988

TRAJETO - Para chegar até a casa do “Guardião do Caparaó”, foi preciso pegar uma carona com ele em uma “Aranha”, que é um veículo adaptado para uso no interior. Apesar do isolamento, o senhor Tarden não troca esse cantinho no meio da natureza por nada.

Ele planta e colhe o que se alimenta e ainda protege um dos cartões postais da região. Para chegar até o Poço das Antas, são cerca de 30 minutos caminhando entre trilhas, que são limpas e conservadas por ele para os turistas.

Durante o trajeto, quedas d’água confirmam o porquê do nome Caparaó, que é de origem indígena das tribos tupi-guarani e significa "águas que rolam nas pedras" ou "águas que correm sobre as pedras". Mesmo no início da trilha, a paisagem já é de arrancar suspiros.

Foto: Rodrigo Eduardo

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Uma das paradas é no Poço das Tartarugas, onde as águas esverdeadas são um convite para a contemplação e o mergulho

O destino final da trilha desvenda o motivo do encantamento de Antônio Tarden por essas terras. O Poço das Antas é o lugar onde quem chega se desliga por minutos do mundo para contemplar esta obra de arte da natureza. As águas geladas e cristalinas convidam para um mergulho que lava a alma e energiza o corpo para continuar as descobertas por essa região.

Foto: Julio Huber

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A beleza do Poço das Antas atraí turistas de todo o Brasil e até do exterior

Turismo estimula o surgimento de empreendimentos na região

O terreno de Antônio Tarden fica dentro do Parque Nacional do Caparaó. “Em 1997 esse terreno ou a fazer parte do território do Parque do Caparaó, mas como até hoje não recebemos indenização, não deixei a minha terra”, conta Tarden.

Ele disse que na época em que ele chegou, as matas atraiam muitos caçadores e pescadores. A maior parte da propriedade era degradada, e Tarden ou a preservar. Com o ar dos anos, ele percebeu que as belezas escondidas em suas terras precisavam ser vistas por mais gente.

“Fiz a trilha até o Poço das Antas com cordas e algumas escadas naturais e sempre a mantenho limpa. Tem fins de semana que quase 200 pessoas am por aqui para conhecer. Se eu não estivesse aqui, acredito que não existiriam essas trilhas e não teria o até os poços”, contou ele.

Foto: Julio Huber

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O Guardião do Caparaó mantém as trilhas limpas para os turistas chegarem até as piscinas naturais

Atualmente, é cobrada uma taxa de R$ 40,00 por pessoa para ter o aos poços, que além de servir para ajudar a manter o local, contribui para a renda da família. O café orgânico cultivado pelo senhor Tarden também é vendido por ele aos turistas e no Restaurante Poço das Antas, que é de sua filha e seu genro, e onde sua esposa, Rilza, também trabalha.

Muitas propriedades ao redor também possuem restaurantes, áreas para acampamentos, estacionamentos, pousadas e outras piscinas naturais. Após décadas preservando o local, hoje o “Guardião do Caparaó” colhe os frutos desta dedicação, presenciando uma transformação sustentável na região.

Fotos: Julio Huber

Hidrolândia é desvendada após anos de preservação

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Pertinho do Poço das Antas fica a Hidrolândia, outro ponto turístico de São João do Príncipe. Mas, para abrir as portas aos turistas, o atual proprietário, José Carlos Gomes, 56, ou mais de 20 anos tentando convencer o pai. A propriedade foi comprada pelo avô de José Carlos, em 1965.

“Naquela época, ele produzia café, mas se preocupou em preservar 200 hectares de mata. Meu avô ou para os filhos com essa mesma proposta, e eu herdei o terreno onde hoje é a Hidrolândia Park”, disse José Carlos. O local foi aberto ao turismo em 2010. “Até então, as cachoeiras eram exclusivas da família e tanto meu pai quanto meu avô não deixavam ninguém entrar”, lembra.

Desde que a Hidrolândia foi aberta, o número de visitantes vem crescendo. “Começamos com um bar, vendendo salgados, refrigerante e suco, mas aos poucos os turistas foram pedindo almoço e hospedagem. Hoje temos o restaurante com comida caseira e área de camping. Temos um bangalô e uma pousada, mas queremos ampliar, porque a demanda é grande”, disse.

José Carlos destaca que a abertura da Hidrolândia atraiu turistas de regiões do Brasil e de outros países que antes não frequentavam a região. “Foi um divisor de águas. Quando a Hidrolândia foi inaugurada, havia dois ou três pontos que atendiam aos turistas, hoje são mais de 50 empreendedores. Nossa abertura foi preponderante para o crescimento da região e para a melhor distribuição de renda”, destacou.

ROTA IMPERIAL - O distrito recebeu o nome em homenagem ao então príncipe Dom João VI, que visitou a região em 1816, durante a inauguração da Rota Imperial — caminho que ligava Minas Gerais ao Espírito Santo. Essa rota foi crucial para a ocupação territorial, o escoamento de riquezas, como o ouro, e a chegada de imigrantes, marcando profundamente a diversidade cultural e a história local, cuja influência ainda é sentida pelos moradores atuais. Marcos que simbolizam a Rota Imperial estão em diversos pontos da localidade.

Carlos Antônio Magalhães

Turista

De férias no Espírito Santo e Minas Gerais, o casal Carlos Antônio Magalhães e Keclles Seferino colocou no roteiro o Poço das Antas. “Estamos conhecendo a região do Caparaó. Sempre me falaram que valia muito a pena e, apesar da água gelada dessa época, a beleza natural daqui é revigorante. A água é cristalina e gelada, e o Poço das Antas vale muito a pena vir conhecer. Vamos explorar outras cachoeiras daqui e aconselho todos virem conhecer essa região”, convida Carlos Antônio.

Trutas das águas geladas do Caparaó conquistam paladares

Foto: Julio Huber

Truta

Francisco e Maristela servem os pratos do restaurante elaborados com truta da propriedade

Nesta viagem de descobertas por municípios ao entorno do Parque Nacional do Caparaó, a próxima parada foi na Toca da Truta, que fica no município capixaba de Ibitirama. Após ar muitos anos vivendo fora do Brasil, Francisco Lemos Faleiro, 66, encontrou nessa região as condições ideais para a criação de trutas, peixe exótico de origem norte-americana que precisa de água gelada para se desenvolver.

“Por eu ser natural de Ibitirama, vim para cá em busca de um local para comprar, com a intenção de criar as trutas. Mesmo praticamente não tendo nada de turismo naquela época, eu já pensava no crescimento da região. Hoje já faz 35 anos que começamos na atividade”, informou.

E quem visita a propriedade conhece muito mais que a criação dos peixes, vive uma experiência turística. “Ele vem para conhecer a truta, mas temos pesque e pague, trilha ecológica de 4.800 metros, ampla área para contemplação, além de piscinas e cachoeiras naturais”, conta Francisco. E a experiência só é completa no restaurante, que conta com pratos em que a truta é a estrela principal.

Foto: Julio Huber

Toca da Truta (8)

Francisco se orgulha de ser o único criador de trutas do Espírito Santo

FOMENTANDO O TURISMO – Na estrada até a Toca da Truta, várias pousadas, restaurantes e propriedades de portas abertas convidam os visitantes para uma parada. A maior parte desses empreendimentos turísticos surgiu nos últimos anos, após o crescente número de visitantes atraídos pela criação de trutas.

Mesmo estando no Caparaó há 35 anos, Francisco acredita que o turismo em toda a região ainda tem muito a crescer. “Os capixabas e moradores de estados vizinhos estão descobrindo o Caparaó. O potencial de crescimento é muito grande”, garante.

Foto: Julio Huber

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Os peixes são criados em tanques de cimento, abastecidos com as águas geladas do Caparaó

E para ajudar nos negócios da família, Francisco não está sozinho. Além de sua esposa, Maristela Faleiro, que é seu braço direto, duas das três filhas (Isabela e Clarissa Faleiro) estão assumindo setores da empresa familiar. A pousada, por exemplo, que é um sonho antigo de Francisco, foi projetada pela filha mais nova, Isabela, 29, que é arquiteta.

Francisco destaca a importância de apoio de diversas instituições, como o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), para o desenvolvimento turístico de toda a região. “O governo do Estado contribuiu muito com a infraestrutura. Já o Sebrae se tornou o braço forte do turismo em nossa região, abraçando o Caparaó, assim como outras regiões do Espírito Santo, e tem dado todo o apoio que precisamos para o desenvolvimento turístico”, enfatiza Francisco.

FLORESTA RECUPERADA

Quando adquiriu a propriedade, as terras precisaram ser recuperadas. Onde hoje se vê uma mata fechada, antes existia pasto e o risco de ser iniciado um processo de erosão. “Eu digo que nosso empreendimento atende aos três aspectos da sustentabilidade: social, econômico e ambiental”, afirma Francisco.

Toca da truta antes e depois

No cardápio do restaurante, o peixe é preparado de diversas formas e com vários acompanhamentos

Truta do Lago

Truta do Lago

Filé de truta ao molho de amêndoas com caviar de ervas, purê de batata doce roxa, levumes salteados e crispy da pele da truta.

Truta do Verão

Truta do Verão

Filé de truta ao molho de amêndoas, musseline de baroa e salada de folhas.

Risoto de Camarão

Risoto de Camarão

Risoto de camarão com tomate, filé de truta no molho de amêndoas, creme fraiche (coalha) e azeite defumado.

O sonho de produzir café deu lugar a restaurante e pousada

Foto: Julio Huber

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Mário e Márcia chegaram no Caparaó para plantar café, mas abriram uma pizzaria e pousada

Distante pouco mais de uma hora da Toca da Truta, o destino da viagem é Pedra Menina, distrito do município capixaba de Dores do Rio Preto. Nesta microrregião do Caparaó – que não para de ganhar novos empreendimentos turísticos em diversos segmentos – é natural não saber se está em terras do Espírito Santo ou de Minas Gerais, já que o jeito de bem receber dos moradores é um só.

Quem presenciou a transformação vivida nos últimos anos foi a empresária Márcia Adriana Moscarelli Marcello e o marido Mário Martins. Eles vieram diretamente da China, onde moravam a trabalho, e resolveram criar raízes no Caparaó. “Chegamos aqui em 2015. Nós somos cariocas e quando viemos, a intenção era plantar café, devido à fama da qualidade dos grãos produzidos aqui”, Lembra Márcia.

Em pouco tempo, o sentimento de pertencimento ao local falou mais alto, eles empreenderam e viraram parte importante do desenvolvimento turístico. “O Caparaó para mim é meu lar e o meu refúgio. O povo, a comida, o ar, a água. É tudo puro. Então, para que eu vou para outro lugar?”, questiona a empresária.

Foto: Julio Huber

Márcia

Márcia se sentiu partencente ao Caparaó desde quando o casal resolveu comprar um terreno

Eles compraram um terreno e logo começaram a construir a casa, mas o turismo literalmente bateu na porta do casal, e o café ficou em segundo plano. “Estávamos de boa em nossa casa e do nada começa a bater gente na nossa porta durante a noite. Eram turistas que estavam descendo do Parque Nacional e paravam para pedir um café ou comida. Na época não tinha nada aqui. Numa noite chegaram 40 carros. Foi quando falei com meu marido que tínhamos que aproveitar a oportunidade e ganhar dinheiro. Ele falou que se garantia na pizza, já que o pai dele era padeiro”, relembra.

Era março de 2016, e abrir uma pizzaria em uma região onde havia poucas casas parecia loucura. E realmente não apareciam clientes. Foi quando o espírito empreendedor falou mais alto em Márcia, e eles resolveram dar pizza de graça aos vizinhos. E a estratégia deu certo.

“Compramos queijos diferentes, presunto de parma, coisas que não tinha na região na época e que as pessoas nem conheciam. Seis meses depois a fama se espalhou e tinha fila de clientes. Nossa casa tinha se transformado em uma pizzaria”, lembra Márcia.

A pizza de taioba virou sucesso e hoje é o carro-chefe do restaurante Casa do Lago. Há ainda outros sabores diferentes de pizza, além de fondues de queijos e doces.

Foto: Julio Huber

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Nora de Mário e Márcia, Isabela Corrêa Custódio ou a trabalhar no restaurante

DESTINO - E para abrir a pousada, mais uma vez a oportunidade bateu na porta do casal. Ou seria o destino? “Chegou um cara no meio da noite, e pensamos que iríamos ser assaltados. Mas ele queria dormir. Acolhemos ele, viramos amigos e depois ele se mudou para Pedra Menina. Mas adoramos recebê-lo, e aí a gente começou a ‘brincadeira’ da pousada”, contou a empreendedora.

O Caparaó de 2015 é muito diferente de hoje. Entretanto, esse desenvolvimento também trouxe mais qualidade de vida e oportunidades. “Se não fosse o turismo, muitas famílias iriam estar produzindo café, talvez muitos não estariam aqui”, acredita ela. Hoje o casal possui uma pizzaria e cinco disputados bangalôs.

APOIO – A empresária lembrou que antigamente não existiam pousadas na região e, assim como ela começou a hospedar em sua casa, muitos moradores abriram as portas de suas residências. “Além do empenho dos moradores na transformação da região em um polo de turismo modelo para o país, os apoios institucionais foram fundamentais no decorrer dos anos. Aqui em Pedra Menina, tudo começou graças ao Sebrae, com o incentivo ao Cama e Café, e isso fez toda a diferença”, afirmou.

Cafeterias surgem em meio a lavouras, e os grãos viram produtos cobiçados

Foto: Julio Huber

Cecília era comissária de bordo e se encantou com o Caparaó, onde vive há 23 anos

A revolução econômica e social trazida ao Caparaó pelo aumento do fluxo turístico fez com que a região se tornasse referência em turismo de experiência, principalmente pelo protagonismo dos próprios moradores, que têm assumido o papel de empreendedores, transformando suas propriedades, saberes e tradições em oportunidades de renda e valorização cultural.

As lavouras de café, por exemplo, deixaram de ser apenas locais de produção agrícola para se tornarem destinos de visitação, onde o turista conhece o processo, prova o café especial e leva para casa não só um produto, mas uma história. As propriedades montaram cafeterias, algumas no meio das lavouras.

Uma das pessoas que viram de perto essa evolução é Cecilia Nakao, proprietária da cafeteria e pousada Villa Januária, no município de Dores do Rio Preto. Ela, que é uma das pioneiras do turismo local, abandonou a profissão de comissária de bordo e resolveu plantar café.

“Eu cheguei aqui como turista em 2002. Não tinha intenção nenhuma de comprar nada e nem de empreender. Mas a região conquista. A energia e toda essa magia encantadora me atraíram. Mesmo depois de tanto tempo, ainda consigo sentir o acolhimento desse lugar maravilhoso que nos envolve”, enfatiza.

Foto: Julio Huber

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Cecília é proprietária da cafeteria e pousada Villa Januária, e produz o próprio café

Quando Cecília chegou, as ruas não eram pavimentadas, não existia telefonia e nem internet, e a região não era turística. “Tinha o projeto Cama e Café, e alguns turistas que descobriam vinham conhecer. Minha profissão na época me proporcionou conhecer muitos países, mas as cafeterias sempre eram meus primeiros pontos de parada, onde eu ficava horas observando as pessoas. Eram meus espaços acolhedores”, contou.

Apesar de ser frequentadora assídua de cafeterias, ela não entendia muito de café e nunca havia imaginado empreender na área. “O que me chamou a atenção aqui foi o Parque Nacional do Caparaó e a portaria que fica a oito quilômetros da minha propriedade. Os brasileiros ainda vão apreciar muito essa unidade de conservação. É imensurável a qualidade de vida que isso traz para nós”, afirma.

Foto: Julio Huber

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A comissária de bordo que virou empresária também é presidente de uma entidade cafeeira

A REVOLUÇÃO DO CAFÉ – Cecília conta que a região era tida como produtora de cafés ruins. “Foi necessária muita capacitação e apoio de diversos órgãos para entendermos que o Caparaó podia produzir cafés excelentes”, conta. Com o ar dos anos, produtores começaram a colocar o café do Caparaó no cenário mundial de qualidade, quando os grãos aram a ser premiados nacionalmente.

O reconhecimento dessa qualidade foi confirmado em 2021, quando o Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) concedeu o reconhecimento de Indicação Geográfica (IG), na categoria de Denominação de Origem (DO), para o Café do Caparaó.

Cecília é atualmente a presidente da Associação de Produtores de Cafés Especiais do Caparaó (Apec), gestora da IG. Para conquistar esse reconhecimento, o Sebrae iniciou um trabalho junto aos produtores em 2013. A área geográfica do Café do Caparaó envolve dez municípios capixabas e seis mineiros.

Ela enaltece as parcerias de instituições que ofertam capacitações, por meio da Apec. “Além de trabalharmos com os produtores nas lavouras, proporcionamos capacitações importantes por meio de parcerias, com o objetivo de sempre trazer qualificação, além das lavouras”.

Propriedades montam cafeterias e agregam valor aos grãos

Com toda essa evolução da qualidade e os prêmios conquistados por cafeicultores locais, os grãos do Caparaó começaram a chamar a atenção de apreciadores, que aram a visitar a região para conhecer de perto esses cafés. No Coffee of The Year (COY), um dos mais importantes concursos de qualidade de cafés do país, os grãos do Caparaó foram vencedores de oito das 12 edições.

E a Revista Negócio Rural visitou um desses premiados, no município de Iúna, na propriedade Cordilheiras do Caparaó. O casal Deneval Miranda Vieira Junior, 54, e Rosa Helena, juntamente com os filhos, conquistaram dezenas de prêmios de qualidade nos últimos anos, entre eles, o primeiro lugar do COY em 2023. Deneval revelou que em 2010, quando a família conquistou o primeiro prêmio de qualidade em um concurso local, a intenção era vender a propriedade e buscar outra atividade na cidade.

Foto: Julio Huber

Café Cordilheiras do Caparaó (1)

Deneval já está preparando os lotes de cafés especiais da safra de 2025

“Um amigo que trabalhava em uma cooperativa me estimulou a participar de um concurso de qualidade naquele ano. Mesmo sem muito preparo e sem estrutura, participamos e conseguimos o 4º lugar. Mas foi o suficiente para nos estimular a buscar conhecimento”, relata o cafeicultor.

Depois disso, a família ou cinco anos se qualificando, estudando e fazendo experimentos em sua propriedade, até que percebeu que era a hora de colocar tudo em prova, e participou novamente de um concurso de qualidade. Desta vez, foram cinco premiações. De lá para cá, ele já perdeu a conta de quantos prêmios a família conquistou. E para a safra de 2025, os melhores lotes já estão sendo preparados.

“Temos aqui condições climáticas extraordinárias para produzir cafés de qualidade, que são a altitude e a umidade, o que cria um microclima e um terroir especial. Mas, se não soubermos trabalhar com essas condições, dos melhores podemos produzir os piores cafés. Hoje eu tenho certeza de que os lugares que dão os melhores cafés são os locais mais desafiadores para produzir”, alertou Deneval.

Foto: Julio Huber

Deneval e a esposa

Rosa Helena e Deneval recebem os turistas na cafeteria montada ao lado da lavoura

 

TURISMO DE EXPERIÊNCIA- Com a virada de chave na cafeicultura do Caparaó, os grãos especiais aram a ser produtos turísticos. Deneval percebeu isso e montou sua cafeteria na propriedade. Hoje ele e a família recebem turistas toda semana, que além de provarem seus cafés especiais, também conhecem como é feita a produção, seja na lavoura ou no terreiro, e ainda têm esse contato com a família.

Quem chega na cafeteria do Cordilheiras do Caparaó se depara com dezenas de troféus que decoram o local, comprovando que dessa propriedade saem alguns dos melhores cafés do país. “Há alguns anos, a maior parte dos turistas que chegavam ao Caparaó vinha para conhecer o Pico da Bandeira. Hoje em dia, os turistas chegam para conhecer os cafés especiais e também vão ao Pico da Bandeira”, brinca o cafeicultor premiado.

Farmacêutico abandona o jaleco e cria cafeteria na propriedade

Foto: Julio Huber

A Cafeteria

Natural de Alegre, no Sul capixaba, Frederico Ayres, 46, se formou em Farmácia e em 2005 ou a trabalhar em Dores do Rio Preto, quando conheceu a esposa, que tinha família produtora de café no Sítio Santa Rita em Espera Feliz (MG).

Em 2009, Fred, como é conhecido, montou uma farmácia em Pedra Menina e ou a morar na propriedade. Foi quando ele começou a conhecer ainda mais a cafeicultura. Em 2014, ele resolveu dar uma reviravolta no seu futuro. Após ajudar o sogro no pós-colheita, ele gostou da atividade e resolveu vender a farmácia.

“Meu sogro montou um laboratório para provar os cafés especiais que eram produzidos na propriedade. Percebi o potencial de transformar o laboratório em uma cafeteria. Meu sogro falou que eu estava doido e questionou quem iria chegar na propriedade para tomar café. Na época existiam poucos empreendimentos turísticos por perto e apenas uma cafeteria simples”, contou.

Fred abriu A Cafeteria em 2014 e hoje é barista e mestre de torra da propriedade. Desde que criou sua cafeteria, ele viu o turismo crescer, se transformar e virar uma das principais fontes de renda da região, juntamente com a cafeicultura.

“O Caparaó só existe por conta das pessoas, nem é por causa do café. As pessoas que trabalham na cafeicultura e hoje no turismo fazem toda a diferença. Quem vem para cá torna-se parte do Caparaó. Existe esse sentimento de pertencimento a essa terra, que é defendida a todo custo”, enfatizou.

Caparaó: a arte infinita que atraiu fotógrafo e o transformou em cafeicultor

Foto: Julio Huber

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André Berlinck se encantou pelo Caparaó quando produziu fotografias de café em 2012

Vindo de Viçosa (MG), onde tinha estúdios e também fotografava casamentos, André Berlinck, 56, se encantou com as belezas do Caparaó, depois de produzir um trabalho fotográfico sobre cafés da região. Amante de aventuras, André também fotografava surf e agora a horas capturando e eternizando momentos da natureza do Caparaó.

“Eu conheci o Caparaó em 2012, fazendo um livro de fotografias sobre café. Comecei a frequentar essa região e em 2014 fiz um curso para ser guia de montanha dentro do parque. Foi aí que a cabeça virou e eu me apaixonei de vez. O Caparaó faz parta da minha vida e tem um pedaço da minha alma”, conta.

Ele começou a fotografar aos 16 anos, mas ite que não é fácil fotografar o Caparaó pelas suas particularidades. “Morar em um lugar icónico igual aqui dá a oportunidade de capturar os melhores momentos. Os registros noturnos, das estrelas e da via láctea - que as pessoas não estão acostumadas a ver -, agradam muito”, relatou.

Além de ar a morar em um local onde se encantou, o fotógrafo virou empreendedor. Quando comprou o terreno, André plantou café. Depois, vendo o crescimento turístico, abriu o Café do Fotógrafo, uma cafeteria comandada por ele e onde são usados os grãos de sua lavoura. Ele também montou uma galeria, onde estão expostos quadros com algumas de suas principais fotos e que são vendidas aos visitantes.

Foto: André Berlinck

Galeria André

A galeria com os quadros expostos e à venda de André Berlinck fica ao lado da Cafeteria do Fotógrafo

Filme inspira casal a empreender no Caparaó

A história do casal Gustavo Vilas Boas, 40, e Cristina Araujo Tavares, 37, poderia ir para as telas de cinema, já que foi assistindo a um filme que ela falou que tinha vontade de um dia ter uma cabana na montanha. O desejo ou a se tornar realidade quando o casal encontrou, em Pedra Menina, o local dos sonhos. “Éramos frequentadores do Caparaó por gostar de café especial e da região. Começamos a procurar propriedades e encontramos nosso pedacinho do céu, em 2020”, contou Gustavo.

Na propriedade existia uma lavoura abandonada e, com a ajuda do tio de Gustavo, que é engenheiro agrônomo, as lavouras hoje produzem cafés de qualidade, com a marca Café Menina, em homenagem à esposa. “Eu não sou da área da cafeicultura, e além do meu tio, tive a sorte de ter uma pessoa comigo que é um parceiro do sítio e nos ajuda muito nesse cuidado com a produção”, comenta Gustavo

Apesar de a região possuir as condições climáticas ideais para se produzir um bom café, Gustavo enaltece uma característica que ele julga essencial. “O saber fazer do povo é o que faz a diferença. Além disso, fomos buscar conhecimento para entender todo o processo do pé à xícara e comprovamos que é possível desenvolver a atividade com excelência por meio do conhecimento”, afirmou.

A cabana na montanha ainda não ficou pronta, mas o Café Menina está nas gôndolas e virou negócio. A embalagem, feita pelo artista Rafael Mantesso, amigo de infância de Gustavo, retrata o pôr do sol visto das lavouras. E todas as embalagens possuem o selo da IG do Caparaó.

Fotos: Julio Huber

Publicitário troca o agito de São Paulo pela tranquilidade do Caparaó

 

Foto: Julio Huber

Rafael Mantesso

Rafael Mantesso criou a arte da embalagem do café de Gustavo e afirma que Caparaó é inspirador

Muitas pessoas vão para grandes centros em busca de oportunidades de trabalho ou para crescer profissionalmente. Esse foi o caminho escolhido pelo publicitário e artista Rafael Mantesso, que nasceu em Carangola (MG), ao lado da região do Caparaó, mas se mudou para São Paulo. Depois de percorrer diversas partes do mundo a trabalho e alcançar o reconhecimento profissional, ele resolveu que era a hora de paz e tranquilidade.

“Em uma viagem que fiz pela National Geographic no Alasca, em 2017, fiquei acampado para fotografar a natureza extrema. Eu amei a solidão na natureza e o frio. E quando eu quis voltar para a região onde eu nasci, para ficar próximo da família, eu busquei um lugar alto, de natureza exuberante e fria”, relatou. Em 2020, em plena pandemia da Covid-19, Rafael encontrou esse lugar, um terreno ao lado do amigo Gustavo.

A embalagem do Café Menina, feita por Rafael, é uma mostra de que o Caparaó inspira a arte. “Aqui, em qualquer lugar que olhamos, a qualquer hora do dia, é um espetáculo. Sejam as plantações de café, as arquiteturas das casas, o relevo, as cores do céu ao amanhecer ou o pôr do sol. Para mim, o Caparaó representa estar mais perto da natureza, daquilo que me faz bem e de um povo acolhedor. É voltar para perto de onde nasci, de conforto, de uma vida simples, mas uma vida bonita. A beleza deixa a vida da gente mais bonita”, resume.

Chef de 25 anos realiza sonho do avô e abre restaurante

O sonho de José Moreira de ter um empreendimento turístico em seu sítio, ao lado da portaria capixaba do Parque Nacional do Caparaó, se tornou realidade, mas pelas mãos do neto Mateus Lacerda, 25. O jovem, que se formou em gastronomia em uma faculdade da Grande Vitória e se capacitou na escola sa de gastronomia Le Cordon Bleu, não pensou duas vezes em retornar para a região onde nasceu para abrir seu próprio negócio, o restaurante Dom José, em Forquilha do Rio, no município mineiro de Espera Feliz.

“Infelizmente, no ano em que a portaria do lado capixaba do Parque do Caparaó foi aberta, meu avô faleceu, mas ficou a sementinha plantada no coração da família. Eu me formei, me profissionalizei, busquei conhecimento e comecei a fomentar, por meio da gastronomia, o sonho que meu avô deixou para nós”, contou Mateus.

Definida como uma cozinha afetiva, os pratos do restaurante são como um afago nas noites frias da região. Os ingredientes são de produtores locais e em breve sairão também de uma horta própria, que irá atender à nova estrutura do restaurante, que está sendo construída bem pertinho do atual. Mateus, que virou empreendedor por meio do sonho do avô, vê o sucesso de seu restaurante crescer à medida em que as reservas aumentam e as mesas são disputadas pelos clientes.

Empreendimento gastronômico é ampliado e impulsiona novos investimentos

 

 Foto: Julio Huber

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A chef Liliana Almeida e a gerente Silvânia Amaral trabalham no Armazém Caparaó, que ampliou o espaço

Complexo de entretenimento que foi inaugurado em 2017 em solo capixaba, o Mountain Club Armazém Caparaó se tornou referência na região. No último ano, o empreendimento abriu as portas na localidade de Paraíso, em Espera Feliz, que fica literalmente do outro lado do rio que divide os dois estados. Com capacidade para comportar até 1.200 pessoas, possui um restaurante à la carte, ampla área kids e amplos espaços com poltronas e cadeiras.

Silvânia Amaral, gerente do Armazém Caparaó, conta que os projetos não param. “Em breve teremos 13 lojas, e a ideia é que o complexo se torne uma vila gastronômica. Nos últimos cinco anos percebo que o turismo evoluiu muito. E nesse processo, o Armazém foi fundamental. Em um evento recente que fizemos, tivemos mais de 700 pessoas no fim de semana, e isso movimenta toda a região e lota as pousadas”, contou.

Foto: Julio Huber

Armazém

O arroz de costelinha é um dos pratos mais pedidos do Armazém Caparaó

A gerente ainda destacou que o empreendimento contribuiu para movimentar a economia regional. “Muitos investidores estão vindo para cá devido a esse movimento de turistas. Eu não imaginava ver a nossa região crescer tanto e tão rápido. A qualidade de vida melhorou não só para quem vive do turismo. Em todos os setores os salários subiram, já que o turismo emprega muito e falta mão de obra. Um dia de faxina, por exemplo, dobrou de valor de um ano para o outro, proporcionando uma melhor distribuição de renda a todos”, comenta.

Empresário investe em hospedagem e planeja ampliação

Foto: Julio Huber

João Villa di Madeira

João Paulo Barros é proprietário do Villa di Madeira e já está construíndo mais unidades

Uma criança que aos nove anos de idade visitava o tio em uma região do campo, em que a produção rural era a única fonte de renda. Da fazenda onde o tio era caseiro havia poucas lembranças, mas que ficaram registradas na memória do pequeno João Paulo Barros.

Os anos se aram e hoje aquele menino tem 42 anos e é empresário do ramo de construção civil. Em meio à pandemia da Covid-19, em 2020, João foi até Pedra Menina, em Dores do Rio Preto, atender a uma cliente que queria construir quatro chalés para alugar. Quando ele, a esposa e as duas filhas chegaram na região, eles se encantaram.

Ao fazer o orçamento para construir os chalés para sua cliente, ela perguntou se João tinha interesse em trocar o seu serviço por um terreno. “Conversei com minha esposa e falei em construir um chalé para podermos ar os finais de semana”, relatou. Como eles moram em Ipatinga (MG), daria para visitar a região com frequência.

Mas o terreno que sua cliente ofereceu tinha cinco mil metros, o que daria para construir vários chalés. “Já existia um sonho de ter uma pousada, mas não era nas montanhas, era na Bahia. Mas aqui fomos muito bem acolhidos pelo povo trabalhador, humilde e muito hospitaleiro. Foi quando minha esposa falou ‘por que não construir aqui a pousada, e não na Bahia’, que era mais longe, e eu concordei”, contou João.

Um amigo quis ser seu sócio, e as obras começaram inicialmente com a intenção de construir 10 chalés, mas que seria no formato de aluguel por meio de aplicativos e não como pousada. “Hoje temos 19 chalés e estamos construindo mais três”, comemora João, ao falar da pousada Villa Di Madeira, onde as unidades são aconchegantes e amplas.

Além do Villa Di Madeira, ele assumiu uma pousada com 30 quartos, e a ideia é construir ainda mais. Durante a obra do Villa Di Madeira, João ficou hospedado em uma residência no sistema Cama e Café, e ele tinha a sensação de já ter estado antes nesse local. Cerca de dois meses depois, conversando com uma pessoa no café da manhã, ele constatou que é justamente na casa onde ele estava hospedado que aquele garotinho de nove anos ava parte de suas férias ao visitar o tio.

“Não foi o destino, foi Deus que me trouxe para cá. Rodamos tanto, e o lugar que eu me encontrei é onde eu já tinha raízes. Hoje o Caparaó é tudo na minha vida, porque é onde a minha família gosta de estar, é onde eu gosto de estar, é onde meu pai nasceu, e é onde está concentrado 95% dos meus negócios. Eu espero que quem vier para cá para empreender, que venha com pensamentos de não destruir a natureza”, concluiu.

Fotos: Julio Huber

Mais de 800 atendimentos a empreendedores do Caparaó em 2024

Importante parceiro do turismo, o Sebrae tem contribuído para a qualificação dos empreendedores do Caparaó. De acordo com o gerente regional do Sebrae/ES no Caparaó, Anderson Baptista, em 2024 foram realizados 864 atendimentos a empreendimentos formais ligados ao turismo na região.

“Oferecemos e e orientação para empreendedores locais com curso e consultorias, ajudando-os a melhorar a gestão de seus negócios, desenvolver produtos turísticos de qualidade e promover ações de marketing”, informou Baptista.

Ele enfatiza a importância do turismo como impulsionador do desenvolvimento econômico do Caparaó. “É um setor que gera empregos, valoriza as belezas naturais e culturais e fortalece a identidade da região, promovendo um crescimento sustentável e melhorando a qualidade de vida da população, com uma melhor distribuição de renda”, afirma.

O turismo tem crescido não só no Caparaó, mas em todo o Espírito Santo. Um exemplo é o número de atrações oficialmente registradas como turismo de experiência, que teve um salto de 129%, ando de 78 em 2024 para 179 em abril deste ano. E um dos motivos principais é o posicionamento do Sebrae/ES voltado ao turismo. “Em 2024, foram investidos R$ 28.089 milhões diretamente no atendimento ao turismo, sendo R$ 16.389 milhões provenientes de recursos exclusivos do Sebrae/ES”, informou o superintendente da entidade, Pedro Rigo. Ele destacou que as metas são ousadas para 2025.

Dados Sebrae

Trilhas, mirantes e paisagem tocam a alma no Parque Nacional do Caparaó

Foto: Divulgação

Jorginho

Jorginho é guia e se mudou para o Caparaó diante do crescimento turístico da região

Nessa viagem pelo Caparaó, seja em estradas mineiras ou capixabas, dezenas de empreendimentos turísticos chamam a atenção, mas não é possível conhecer todos em uma única visita. Entretanto, como estreante no Caparaó, não daria para nos despedir sem conhecer o Parque Nacional do Caparaó, que une o Espírito Santo e Minas Gerais e abriga o Pico da Bandeira.

E quem conhece essas estradas e trilhas como ninguém é o guia de montanha Jorge Adriano, 53, o Jorginho da Eco Trilhas Brasil. Ele nos guiou até o Mirante do Lajão, que fica a 2.215 metros de altitude e que é considerada a segunda estrada mais alta do Brasil em que se consegue chegar de carro.

“Por muitos anos o Parque do Caparaó tinha como único atrativo o Pico da Bandeira. Mas de 2018 para cá, isso vem mudando. Hoje recebemos turistas que não vêm só para conhecer o parque, mas por conta dos cafés, do turismo gastronômico, para curtir as pousadas e cachoeiras. Vendo esse crescimento, eu vendi uma academia que tinha, me mudei para cá e abri a minha agência de turismo”, destacou Jorginho.

A portaria capixaba está a 1.410 metros de altitude e para chegar até o Mirante do Lajão, há uma transição da vegetação de mata atlântica para campo de altitude. “Isso é incrível, pois conseguimos ver aqui o que aprendemos na escola”, completa Jorginho. Do Mirante do Lajão é possível avistar três estados: Espirito Santo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, como explica o guia Jorginho, no vídeo abaixo. Clique e assista!

TRADIÇÃO DO CAPARAÓ – A subida noturna, bastante tradicional entre os frequentadores do Caparaó, é um hábito local e que virou tradição, conforme explicou Jorginho. “Pesquisando outros locais brasileiros de montanha, percebi que fazer trilhas noturnas é uma característica daqui, um hábito local que se transformou na principal atividade do Parque do Caparaó”, contou. A intenção de quem sobe de madrugada até o Pico da Bandeira é ver o nascer do sol acima das nuvens, tornando a experiência turística única e mágica.

Fotos: André Berlinck

Arte Caparaó

Fotos: Julio Huber

Travessia dos Sete Cumes será a maior do Brasil e vai atrair turistas internacionais

Foto: Julio Huber

Parque Nacional do Caparaó (1)

O Pico do Cristal e o Pico do Calçado são dois dos sete cumes do novo produto turístico

Com o objetivo de impulsionar o turismo de experiência direcionado a quem pratica montanhismo, o Sebrae do Espírito Santo se uniu ao de Minas Gerais para formatar a Travessia dos Sete Cumes, que tem previsão de ser lançada no início do próximo ano.

Jorginho é um entusiasta do projeto. “A Travessia dos Sete Cumes vai contemplar os sete maiores picos do Parque Nacional do Caparaó. É uma travessia inédita no Brasil, já que o país não possui uma travessia com o grau de dificuldade classe dois”, contou o guia.

Segundo ele, o roteiro começa em Pedra Menina e vai até São João do Príncipe, em Iúna. Estão previstos quatro dias e três noites de travessia. “Essa será uma atividade que, obrigatoriamente, terá que ser feita com guia”, adiantou.

A previsão é de que esse novo atrativo atraia montanhistas de alta performance de todo o mundo. Será um local de preparação para quem pretende ir às montanhas mais altas do mundo, como Everest, K2, Aconcágua, Kilimanjaro, entre outros.

QUAIS SÃO OS SETE CUMES

  • Pico da Bandeira – 2.892 metros (terceiro ponto mais alto do Brasil)
  • Pico do Calçado – 2.849 metros
  • Pico do Cristal – 2.770 metros
  • Pico do Tesouro – 2.620 metros
  • Pico do Tesourinho – 2.584 metros
  • Pedra Roxa – 2.649 metros
  • Cruz do Negro – 2.658 metros

 

PLANEJAMENTO - Anderson Baptista contou que a Travessia dos Sete Cumes está sendo elaborada pelo Sebrae, em conjunto com o Grupo Gestor de Governança da Região do Caparaó. Em outubro deste ano deverá ocorrer uma capacitação para formação de guias capixabas e mineiros que estarão aptos a realizarem a atividade.

A ideia é que a formação técnica capacite os guias para lidar com turistas que são atletas de alta performance. “Esse novo atrativo será um grande indutor do desenvolvimento local”, afirmou Baptista.

A viagem chegou ao fim, mas o Caparaó ainda tem muito a ser descoberto em uma segunda visita. Por tudo que foi possível conhecer, o que ficou nítido é que o turismo não apenas trouxe renda e visibilidade para a região, mas reforçou o orgulho de ser do Caparaó. E é justamente essa combinação - natureza exuberante, cultura viva, café de excelência e gente que não abre mão de suas raízes - que faz do Caparaó um destino brasileiro cada vez mais procurado, irado e respeitado.